As missões jesuíticas na bacia do rio Paraná – Itatim no sul do Mato Grosso, Guairá no Paraná,
Sete Povos no Rio Grande do Sul, mais Missiones na Argentina e o Paraguai – constituíram ao
longo de quase 180 anos (1609-1785), uma singular experiência civilizatória que Charles Lugon
denominou “A República Comunista Cristã dos Guaranis”. Na margem esquerda do Rio
Uruguai, hoje Rio Grande do Sul, situavam-se os 7 povos, destruídos, todos, por ocasião da
guerra que Espanha e Portugal moveram contra os Guarani nos anos 1753-56.
Derrotados e expulsos os Guarani restaram as ruínas dos 7 Povos que foram incendiadas,
saqueadas e depois abandonadas, tomadas pelo mato. Só a partir de 1930, com a criação do
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, é que estas “missões” passam a
ser reconhecidas como parte constitutiva do patrimônio histórico e cultural brasileiro. Dentre
as iniciativas resultantes deste reconhecimento ressalta o trabalho de identificação, e coleta,
de artefatos jesuítico-guaranis, em especial estátuas e objetos de culto que adornavam as
igrejas missioneiras. São estátuas de anjos, santos, Nossa Senhora, Jesus crucificado, além de
castiçais e outros objetos. Tudo esculpido em madeira. Ora pequenas estátuas, ora grandes
imagens compostas de várias peças cuidadosamente encaixadas. Trabalho de artesãos
indígenas ou de artesãos europeus. Duzentos anos após a destruição dos 7 Povos estas
estátuas missioneiras resistem! Estão aí como testemunhas a um só tempo silenciosas e
eloquentes do que foi a experiência protagonizada pelo povo Guarani.
Parcela significativa do que restou da destruição compõe hoje o acervo do Museu das Missões
em São Miguel das Missões, muito embora outros museus e algumas igrejas abriguem imagens
missioneiras. É o caso do Museu Antropológico Diretor Pestana que tem sob sua guarda
imagens de Nossa Senhora de Loreto, Nossa Senhora da Glória, Santo Isidro, um Anjo, afora
outros objetos em madeira, cerâmica ou pedra. São peças únicas, valiosíssimas, que muito
valorizam o acervo do Museu.

Texto por: Jaeme Luiz Callai. Professor de História – UNIJUI