O Museu Antropológico Diretor Pestana, no dizer de um professor da Universidade Autônoma de Madri, quando de sua visita ao mesmo, é um “museu de identidade”. Resta saber qual é a identidade? A identidade de quem? Quem ali se reconhece?

O Museu, em suas mais de seis décadas de existência, trabalhou diligentemente na coleta, na classificação e organização, na preservação e guarda de testemunhos, de documentos, de objetos que permitam a mais adequada representação de identidade das populações e grupos sociais que são parte da longa história desta região. 

Quem somos? Qual a identidade dos ijuienses? O autorretrato é por si só muito problemático, sempre sujeito à autoilusão. Tendemos, quando otimistas, a nos considerarmos melhor do que efetivamente somos ou, quando pessimistas, a nos depreciarmos. 

O autorretrato das primeiras décadas privilegiou a contribuição dos indígenas pré-cabralinos e jesuíticos e, especialmente, a dos imigrantes, que a partir do final do século XIX, auxiliou aqui no “progresso” e forte contribuição civilizatória. O Museu reproduzia, inadvertidamente, a ideologia do branqueamento da raça brasileira, muito em voga no início do século XX. Este viés se revelou na escassa presença de documentação e referência às populações negras, mestiças (caboclos) e indígenas contemporâneos, quando consideradas as primeiras décadas da existência do Museu. 

Passa o tempo. Estudos acadêmicos de professores e alunos da Fafi/Unijuí trazem novos entendimentos, novas abordagens, contribuem para uma compreensão mais alargada do que somos, da contribuição de diferentes atores sociais na construção da sociedade ijuiense. Tem início então a construção de outro autorretrato, que pretende ser mais fiel à diversidade da população ijuiense e regional. 

O trabalho desenvolvido nas primeiras décadas retratava uma sociedade de imigrantes na qual os demais grupos tinham um papel acessório, expressando assim o entendimento predominante, reiteradamente expresso por aqueles “que tinham voz”. Com a passagem dos anos o Museu busca retratar a complexidade de uma sociedade plural, em que diferentes grupos propiciam valiosa contribuição.

O desafio, permanente, é saber se efetivamente as pessoas, os grupos sociais se “enxergam” neste retrato que o Museu  apresenta e representa.

 

Texto por Jaeme Luiz Callai, Professor História UNIJUÍ.

Foto: Exposição artesanato povos indígenas na atualidade. Museu, 1983.